O trabalho que se segue, foi feito por mim, no âmbito da disciplina de Sociologia, enquanto andava na faculdade de Arquitectura. Na altura pareceu-me um tema bastante pertinente mas ainda hoje penso que o é. Não houve qualquer alteração do texto desde então. Não se trata de um trabalho de grande pesquisa e tão pouco de ordem científica e as conclusões são de ordem pessoal. Obviamente que muita coisa mudou de lá para cá, afinal, já se passaram cinco ou mais anos mas em muitos aspectos penso que poderíamos ter desenvolvido muito mais, principalmente a nível social (educação e saúde) e urbano (mais infraestruturas de transportes, saúde pública, saneamento...)
Introdução
Podemos considerar cidade, a organização de uma sociedade constituída
pelos seus projectos, seus conflitos, suas contradições, assim como as
interacções resultantes das suas opções sociais, políticas, económicas e
culturais.
Com a mundialização da economia, a atractividade das grandes metrópoles exerceu
enorme influência no comportamento humano dando origem aos grandes aglomerados populacionais
e habitacionais, as megalópoles, que
estruturam espaços, (alguns de forma duvidosa), perdendo o seu conceito real e
em larga medida o seu sentido.
I. Cidade e Globalização
Chamamos globalização ao fenómeno do crescimento da interdependência de
todos os povos e países do planeta. Esta está associada a uma aceleração do
tempo, pois tudo muda mais rapidamente hoje em dia, fazendo da instantaneidade
uma das suas principais características. Por sua vez, o espaço mundial (cada
vez mais virtual) ficou mais integrado.
Assim como a economia, a globalização é um processo irreversível e
permanente que se manifesta nas mais variadas situações com as quais temos de
aprender a conviver, trazendo, não só mudanças positivas como negativas ao
nosso quotidiano.
Beneficiamos enquanto consumidores pela opção de escolha ter-se tornado
maior, mas, com a necessidade de modernização e o aumento da competitividade, a
taxa de desemprego também aumentou. O trabalhador perdeu o espaço por causa da
dependência tecnológica dos países periféricos em relação aos desenvolvidos. A
única alternativa enquanto cidadão globalizado é manter uma constante
actualização dos factos, ser aberto, criativo, inovador e dinâmico.
Luanda reflecte este processo através da excessiva necessidade de rápida
construção. Face a esta situação, novas tecnologias, metodologias e processos
são empregues e com isso, interacções sociais, culturais e até mesmo espaciais,
são estabelecidas.
Surgem novas formas de conceber o tempo e o espaço e novas formas de
conceber e pensar arquitectura, sendo esta, sem dúvida, a face visível da
globalização.
A arquitectura deixa de se apresentar harmoniosa para construir uma
variedade de factores sociais, económicos e, muitas vezes, políticos que são
preponderantes para a qualidade estética e técnica que lhe surge. Deixa de ter
quaisquer referências históricas e culturais e passa a estar voltada para o
consumismo massificado perdendo o seu carácter local e específico, tendo como
principal objectivo a funcionalidade.
O conjunto de todos estes factores tornam a cidade crítica no que se
refere às relações sociais, perdem-se os espaços públicos e a noção de
convívio. A arquitectura influi na organização do espaço urbano e na maneira
como o cidadão se comporta perante esse mesmo espaço, relevado pelas sucessivas
imigrações, causa e consequência da desvalorização do mesmo, a par da
globalização.
A globalização, além dos muitos constituintes, é marcada pela
virtualidade. Poucas são as pessoas, no país inteiro, com acessibilidade ao
computador, a Internet, ao telefone e a televisão. Encontramo-nos fechados
intramuros, esquecendo que Luanda pouco é, em relação a Angola.
Infelizmente, Angola encontra-se atrasada neste facto que, de forma
directa ou indirecta, afecta todos os países do mundo. Existe um grande número
de analfabetismo no país, pouca educação “cívica” e, principalmente, pouca
informação acessível.
Comemos fast food, bebemos coca-cola,
vestimos jeans, ouvimos rap, dançamos samba e vemos os mesmos
filmes, mas, quantos são os que assim se comportam em Angola? Quantas
províncias se encontram em fase de crescimento e desenvolvimento como Luanda?
Afinal, somos ou não um país globalizado? Estaremos preparados para enfrentar
este desafio a que se chama globalização?
II. Cidade Dual
Cidades duais são cidades cujas manifestações contemporâneas das
estruturas urbanas, sociais e económicas se encontram distintamente
polarizadas.
A existência de grandes e luxuosos condomínios contrastam com áreas
imensas de pobreza extrema (musseques). Luanda é o exemplo vivo de cidade dual,
com espaços sociais e urbanisticamente degradados.
Existe uma grande diversidade cultural que a torna num espaço de
socialização negativa para a nova geração, foco de violência, insegurança,
mal-estar e inacessibilidade urbana.
Não existem planos urbanísticos definidos (muito menos ordenamento
territorial), e daí o facto da grande especulação imobiliária com que nos confrontamos
actualmente, sem a previsão de espaços sociais e comuns a todos. Os interesses
públicos são minimamente estabilizados e estruturados, mas não são suficientes
para termos uma cidade organizada, o que nos torna a nós, como cidadãos, pouco
solidários a ela.
Luanda é uma cidade em desenvolvimento pós guerra tentando recuperar a
sua identidade de um modo rápido mas, nem por isso, eficaz. Esta privilegia
negativamente os pólos de concentração das edificações tendo dificuldade em
estruturar o conceito ou feito de cidade como um todo.
Vivemos sobre o mesmo espaço e somos completamente transparentes a
necessidades comuns pois cada um tem o seu “carro”, a sua “casa”, o seu
“serviço”, e assim sobrevive consoante a capacidade de resposta às mesmas.
Fazer com que esta tenha qualidade implica ter capacidade de olhar para os
espaços fragmentados e segregados e, ser capaz de os trazer para a cidade, numa
versão nova, mantendo a identidade dos mesmos.
É importante perceber que Luanda, além de capital, é também o pólo de
crescimento económico, daí a causa, além das imigrações resultantes da guerra,
do grande crescimento demográfico e, da situação em que nos encontramos
actualmente.
Conclusão
Depois de uma abordagem generalizada sobre estes temas que afectam
directamente não só a nossa cidade (Luanda) como também a maior parte dos
países do mundo, foi-me possível perceber o quanto é importante reflectirmos
sobre estes factos.
Luanda, apesar do seu desenvolvimento, não tem tido capacidade de
responder às necessidades de todos os seus habitantes, uma vez, que a sua densidade
populacional é excessiva.
No meu ponto de vista não nos
podemos considerar, ainda, um país globalizado, porque a globalização refere-se
ao bombardeamento de rápida informação, a unicidade do globo, a mistura
constante de culturas e hábitos comuns.
Boa parte, senão a maioria, do que consumimos é importado, roupas,
carros, telemóveis, comida, tecnologias, entre muitas outras coisas. Todos
estes factos fazem de nós um país a par da globalização, isto é, influenciado
por ela. Todo este processo dá-nos acesso a esta grande unicidade mundial. Quem
de nós não saberia responder onde fica os Estados Unidos da América? A pergunta
é, quantos nos E.U.A saberia responder, onde fica Angola?
Sabemos, também, que Angola está em fase de recuperação pós guerra, mas,
este rápido desenvolvimento, tem-se, na sua maioria, centralizado em Luanda. Que condições
terá a população que nela se refugiou durante estes anos, de voltar para as
suas respectivas cidades, uma vez, que estas se mantêm intactas.
Não será possível acabar com os musseques, com a violência, e com a
degradação urbana enquanto nos encontrarmos concentrados num único pólo. É
necessário pensar em soluções de descentralização, de modo a equilibrar a
densidade populacional por todo país, proporcionando mais informação técnica e
intelectual.