sexta-feira, 26 de abril de 2013

Cidade e globalização vs Cidade dual

O trabalho que se segue, foi feito por mim, no âmbito da disciplina de Sociologia, enquanto andava na faculdade de Arquitectura. Na altura pareceu-me um tema bastante pertinente mas ainda hoje penso que o é. Não houve qualquer alteração do texto desde então. Não se trata de um trabalho de grande pesquisa e tão pouco de ordem científica e as conclusões são de ordem pessoal. Obviamente que muita coisa mudou de lá para cá, afinal, já se passaram cinco ou mais anos mas em muitos aspectos penso que poderíamos ter desenvolvido muito mais, principalmente a nível social (educação e saúde) e urbano (mais infraestruturas de transportes, saúde pública, saneamento...)

Introdução

Podemos considerar cidade, a organização de uma sociedade constituída pelos seus projectos, seus conflitos, suas contradições, assim como as interacções resultantes das suas opções sociais, políticas, económicas e culturais.
Com a mundialização da economia, a atractividade das grandes metrópoles exerceu enorme influência no comportamento humano dando origem aos grandes aglomerados populacionais e habitacionais, as megalópoles[1], que estruturam espaços, (alguns de forma duvidosa), perdendo o seu conceito real e em larga medida o seu sentido.

I.  Cidade e Globalização

Chamamos globalização ao fenómeno do crescimento da interdependência de todos os povos e países do planeta. Esta está associada a uma aceleração do tempo, pois tudo muda mais rapidamente hoje em dia, fazendo da instantaneidade uma das suas principais características. Por sua vez, o espaço mundial (cada vez mais virtual) ficou mais integrado.
Assim como a economia, a globalização é um processo irreversível e permanente que se manifesta nas mais variadas situações com as quais temos de aprender a conviver, trazendo, não só mudanças positivas como negativas ao nosso quotidiano.
Beneficiamos enquanto consumidores pela opção de escolha ter-se tornado maior, mas, com a necessidade de modernização e o aumento da competitividade, a taxa de desemprego também aumentou. O trabalhador perdeu o espaço por causa da dependência tecnológica dos países periféricos em relação aos desenvolvidos. A única alternativa enquanto cidadão globalizado é manter uma constante actualização dos factos, ser aberto, criativo, inovador e dinâmico.
Luanda reflecte este processo através da excessiva necessidade de rápida construção. Face a esta situação, novas tecnologias, metodologias e processos são empregues e com isso, interacções sociais, culturais e até mesmo espaciais, são estabelecidas.
Surgem novas formas de conceber o tempo e o espaço e novas formas de conceber e pensar arquitectura, sendo esta, sem dúvida, a face visível da globalização.
A arquitectura deixa de se apresentar harmoniosa para construir uma variedade de factores sociais, económicos e, muitas vezes, políticos que são preponderantes para a qualidade estética e técnica que lhe surge. Deixa de ter quaisquer referências históricas e culturais e passa a estar voltada para o consumismo massificado perdendo o seu carácter local e específico, tendo como principal objectivo a funcionalidade.
O conjunto de todos estes factores tornam a cidade crítica no que se refere às relações sociais, perdem-se os espaços públicos e a noção de convívio. A arquitectura influi na organização do espaço urbano e na maneira como o cidadão se comporta perante esse mesmo espaço, relevado pelas sucessivas imigrações, causa e consequência da desvalorização do mesmo, a par da globalização.
A globalização, além dos muitos constituintes, é marcada pela virtualidade. Poucas são as pessoas, no país inteiro, com acessibilidade ao computador, a Internet, ao telefone e a televisão. Encontramo-nos fechados intramuros, esquecendo que Luanda pouco é, em relação a Angola.
Infelizmente, Angola encontra-se atrasada neste facto que, de forma directa ou indirecta, afecta todos os países do mundo. Existe um grande número de analfabetismo no país, pouca educação “cívica” e, principalmente, pouca informação acessível.  
Comemos fast food, bebemos coca-cola, vestimos jeans, ouvimos rap, dançamos samba e vemos os mesmos filmes, mas, quantos são os que assim se comportam em Angola? Quantas províncias se encontram em fase de crescimento e desenvolvimento como Luanda? Afinal, somos ou não um país globalizado? Estaremos preparados para enfrentar este desafio a que se chama globalização?

II. Cidade Dual

Cidades duais são cidades cujas manifestações contemporâneas das estruturas urbanas, sociais e económicas se encontram distintamente polarizadas.
A existência de grandes e luxuosos condomínios contrastam com áreas imensas de pobreza extrema (musseques). Luanda é o exemplo vivo de cidade dual, com espaços sociais e urbanisticamente degradados.
Existe uma grande diversidade cultural que a torna num espaço de socialização negativa para a nova geração, foco de violência, insegurança, mal-estar e inacessibilidade urbana.
Não existem planos urbanísticos definidos (muito menos ordenamento territorial), e daí o facto da grande especulação imobiliária com que nos confrontamos actualmente, sem a previsão de espaços sociais e comuns a todos. Os interesses públicos são minimamente estabilizados e estruturados, mas não são suficientes para termos uma cidade organizada, o que nos torna a nós, como cidadãos, pouco solidários a ela.
Luanda é uma cidade em desenvolvimento pós guerra tentando recuperar a sua identidade de um modo rápido mas, nem por isso, eficaz. Esta privilegia negativamente os pólos de concentração das edificações tendo dificuldade em estruturar o conceito ou feito de cidade como um todo.
Vivemos sobre o mesmo espaço e somos completamente transparentes a necessidades comuns pois cada um tem o seu “carro”, a sua “casa”, o seu “serviço”, e assim sobrevive consoante a capacidade de resposta às mesmas. Fazer com que esta tenha qualidade implica ter capacidade de olhar para os espaços fragmentados e segregados e, ser capaz de os trazer para a cidade, numa versão nova, mantendo a identidade dos mesmos.
É importante perceber que Luanda, além de capital, é também o pólo de crescimento económico, daí a causa, além das imigrações resultantes da guerra, do grande crescimento demográfico e, da situação em que nos encontramos actualmente.

Conclusão

Depois de uma abordagem generalizada sobre estes temas que afectam directamente não só a nossa cidade (Luanda) como também a maior parte dos países do mundo, foi-me possível perceber o quanto é importante reflectirmos sobre estes factos.
Luanda, apesar do seu desenvolvimento, não tem tido capacidade de responder às necessidades de todos os seus habitantes, uma vez, que a sua densidade populacional é excessiva.
 No meu ponto de vista não nos podemos considerar, ainda, um país globalizado, porque a globalização refere-se ao bombardeamento de rápida informação, a unicidade do globo, a mistura constante de culturas e hábitos comuns.
Boa parte, senão a maioria, do que consumimos é importado, roupas, carros, telemóveis, comida, tecnologias, entre muitas outras coisas. Todos estes factos fazem de nós um país a par da globalização, isto é, influenciado por ela. Todo este processo dá-nos acesso a esta grande unicidade mundial. Quem de nós não saberia responder onde fica os Estados Unidos da América? A pergunta é, quantos nos E.U.A saberia responder, onde fica Angola?
Sabemos, também, que Angola está em fase de recuperação pós guerra, mas, este rápido desenvolvimento, tem-se, na sua maioria, centralizado em Luanda. Que condições terá a população que nela se refugiou durante estes anos, de voltar para as suas respectivas cidades, uma vez, que estas se mantêm intactas.
Não será possível acabar com os musseques, com a violência, e com a degradação urbana enquanto nos encontrarmos concentrados num único pólo. É necessário pensar em soluções de descentralização, de modo a equilibrar a densidade populacional por todo país, proporcionando mais informação técnica e intelectual.




[1] Megalópole é uma extensa região urbanizada, pluri-polarizada por metrópoles conturbadas. Correspondem as mais importantes e maiores aglomerações urbanas da actualidade (tratam-se de cidades com população superior a 5 milhões de habitantes).



Sem comentários:

Enviar um comentário