terça-feira, 21 de maio de 2013

Benguela - 396 anos

Benguela é uma cidade fantástica! Quanto mais lá vou, mais vontade tenho de ficar por lá. Desde pequena que viajo para esta cidade maravilhosa que tem, nos últimos anos, registado um desenvolvimento franco a todos os níveis. Ao contrário de Luanda, Benguela tem uma malha urbana quadricular e uma arquitectura cheia de fervor dos anos modernos. As moradias ainda com seus traços horizontais e brise soleils transformam a paisagem urbana muito mais apelativa e aconchegante. Os muros ainda se mantêm baixos , marcando os loteamentos mas, permitindo a interacção dos espaços público e privado harmonicamente. Aos 396 anos, a cidade comemorou, no dia 17 de Maio, com suavidade e brilho, uma paz instalada e um desenvolvimento equilibrado. Parabéns a Benguela e àqueles que muito fizeram e fazem pelo seu crescimento.




Para celebrar, partilho imagens de um pequeno percurso feito a pé e de um passeio à Baía Azul, para que possam perceber um bocado da qualidade urbana a qual me refiro. A uns anos atrás, tal como muitas outras cidades de Angola, Benguela apresentava sinais de degradação urbana, nada que se compare a Luanda, ainda hoje, mas, actualmente a cidade tem sido requalificada e mantida, que é o mais importante. Os passeios estão arranjados, não se vê lixo nas ruas, os jardins estão devidamente tratados, a biodiversidade urbana é notável (ainda se acorda com o barulhinho dos pássaros, dorme-se com o barulhinho dos grilos, vê-se imensas borboletas...) e o mais importante de tudo é que a população colabora. 



O apoio na manutenção do espaço público e até mesmo do privado, sempre que não são alteradas as linhas da Arquitectura original, mantém a identidade "primária" da cidade, tornando-se evidente a "instalação" do Movimento Moderno sobre a capital da província de Benguela. 
Os passeios são largos e separados por espaços verdes, promovendo a biodiversidade, sombra ao peão, e conforto urbano, acústico e ambiental. 



Como não podia deixar de ser, por cá também já se fazem uns "cogumelos selvagens" (construção à moda sei lá de quem) que destoam da realidade arquitectónica existente.






As imagens mostram, também, a equipa de limpezas da cidade e os variados equipamentos urbanos que promovem e, de certa forma, sensibilizam a população a manter o espaço público sempre limpo. 
Como é evidente, esta requalificação não "rouba" a nossa cultura nem o nosso modo de estar ou viver a cidade. As quitandeiras (mulheres/homens que vendem na rua) e as cupapatas (táxi em versão motocicleta) são um forte exemplo do que me refiro. O importante é adaptarmo-nos a mudança e conciliarmos à nossa actividade, sem que provoque impactos negativos sobre a qualidade do espaço urbano ou social. 
É ainda de referir, que a actividade socioeconómica, no caso, a agricultura e a pecuária, é das áreas que permanecem resguardadas por parte da população e nesse sentido a cidade é, bastante, sustentável. Desde pequena que sou consumidora assídua do que a agricultura tem para oferecer, o que fico a dever a minha família (residentes de Benguela) que me enchem de miminhos e regalias. Lembro-me de comer mangas debaixo das mangueiras do Cavaco e sair de lá toda suja e com a barriga demasiado cheia para o almoço, de ver os miúdos a subir pelos mamoeiros com a maior rapidez do mundo, do corredor de coqueiros e palmeiras que seguiam a EN100 até Catumbela e Lobito (municípios da mesma província) e dos variados campos cultivados ao longo da mesma.  Bem, a verdade é que neste sentido as coisas pioraram um bocado, já não é tão evidente como quando lá ia em miúda mas ainda é uma realidade que espero manter-se, afinal, desenvolvimento não é só betão! 



Mas nem tudo são rosas e também existem coisas más tais como a intervenção feita sobre a Baía Azul, que é uma das atracções turísticas de Benguela. Um mar azul, areia limpa e uma paisagem magnifica que tendem, dado a especulação imobiliária a, praticamente, privatizá-la. Sou a favor da requalificação do espaço mas não deste tipo de construção desenfreada onde, muito poucos, estão preocupados com a paisagem e com àqueles que desta deixarão de usufruir. Não me parece que transformar a baía num mar de condomínios de "luxo" (visto que nem todos terão acesso aos mesmos) seja solução para uma das nossas melhores praias.
Criticas a parte é, de um modo geral de louvar o trabalho que tem sido feito, pelas entidades competentes, nos últimos anos sobre a cidade e espero que continue por muitos mais...

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